segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pará: assassinato anunciado



Em 24 de maio de 2011, foram assassinados nossos companheiros, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assentados no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna – PA. Os dois foram emboscados no meio da estrada por pistoleiros, executados com tiros na cabeça, tendo Zé Claúdio a orelha decepada e levada pelos seus assassinos provavelmente como prova do “serviço realizado”.

Camponeses e líderes dos assentados do Projeto Agroextratista, Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo (estudante do Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA), foram o exemplo daquilo que defendiam como projeto coletivo de vida digna e integrada à biodiversidade presente na floresta. Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, os dois viviam e produziam de forma sustentável no lote de aproximadamente 20 hectares, onde 80% era de floresta preservada. Com a floresta se relacionavam e sobreviviam do extrativismo de óleos, castanhas e frutos de plantas nativas, como cupuaçu e açaí. No projeto de assentamento vive aproximadamente 500 famílias.

A denúncia das ameaças de morte de que eram alvo há anos alcançaram o Estado Brasileiro e a sociedade internacional. Elas apontavam seus algozes: madeireiros e carvoeiros, predadores da natureza na Amazônia. Nem por isso, houve proteção de suas vidas e da floresta, razão das lutas de José Cláudio e Maria contra a ação criminosa de exploradores capitalistas na reserva agroextrativista.

Tamanha nossa tristeza! Desmedida nossa revolta! A história se repete! Novamente camponeses que defendem a vida e a construção de uma sociedade mais humana e digna são assassinados covardemente a mando daqueles a quem só importa o lucro: MADEREIROS e FAZENDEIROS QUE DEVASTAM A AMAZÔNIA.

ATÉ QUANDO?

Não bastasse a ameaça ser um martírio a torturar aos poucos mentes e corações revolucionários, ainda temos de presenciar sua concretude brutal?

Não bastasse tanto sangue escorrendo pelas mãos de todos que não se incomodam com a situação que vivemos, ainda precisamos ouvir as autoridades tratando como se o aqui fosse distante?

Não bastasse que nossos homens e mulheres de fibra fossem vistos com restrição, ainda continuaremos abrindo nossas portas para que os corruptos sejam nossos lideres?

Não bastasse tanta dificuldade de fazer acontecer outro projeto de sociedade, ainda assim temos que conviver com a desconfiança de que ele não existe?

Não bastasse que a natureza fosse transformada em recurso, a vida tinha também que ser reduzida a um valor tão ínfimo?

Não bastasse a morte orbitar nosso cotidiano como uma banalidade, ainda temos que conviver com a barbárie?

Mediante a recorrente impunidade nos casos de assassinatos das lideranças camponesas e a não investigação e punição dos crimes praticados pelos grupos econômicos que devastam a Amazônia, RESPONSABILIZAMOS O ESTADO BRASILEIRO – Presidência da República, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, Polícia Federal, Ministério Público Federal – E COBRAMOS JUSTIÇA!

ESTAMOS EM VÍGILIA!!!

“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio. Mas toda uma vida de lutas.”
Marabá-PA, 24 de Maio de 2011.

Universidade Federal do Pará/ Coordenação do Campus de Marabá; Curso de Pedagogia do Campo UFPA/FETAGRI/PRONERA; Curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo;
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST/ Pará;
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura – FETAGRI/Sudeste do Pará;
Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar – FETRAF/ Pará;
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB;
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá;
Via Campesina – Pará;
Fórum Regional de Educação do Campo do Sul e Sudeste do Pará

domingo, 29 de maio de 2011

EDUCAFRO EM BRASÍLIA


A Educafro participará de uma audiência no Superior Tribunal de Justiça, neste dia 30 de maio. Abaixo, seguem algumas perguntas dirigidas ao ministro.

PERGUNTAS PARA O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AUDIÊNCIA NO DIA 30 DE MAIO DE 2011 ÀS 15 HORAS NO STJ


CONFIRA OS QUESTIONAMENTOS EM http://www.educafro.org.br/noticia.php?id=1401&cat=3&sub=9

FALECE ABDIAS DO NASCIMENTO: Valente guerreiro



Faleceu nesta manhã, de 24/05 no Rio de Janeiro Abdias do Nascimento. Escritor, Poeta, Político, Artista Plástico, Jornalista, Ator e Diretor Teatral.Abdias teve a coragem de denunciar o racismo na defesa da cidadania dos afrodescendentes da África espalhados por todo o mundo.

O Brasil Afro perde hoje um de seus maiores representantes, aos 97 anos. A ele nossa gratidão.

O velório de Abdias Nascimento será quinta-feira (26/05), a partir das 18h na Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro. O corpo sairá de lá na sexta (27/05), 11h da manhã, para o Crematório da Santa Casa da Misericórdia no Caju. Era o desejo de Abdias ser cremado. As cinzas serão levadas para a Serra da Barriga, em Alagoas, local do maior centro da resistencia negra no Brasil, o Quilombo dos Palmares.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Inscrição para Enem começa hoje e vai até 10 de junho


As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) serão abertas hoje, a partir das 10h, e seguirão até as 23h59 de 10 de junho, feitas exclusivamente pela internet. O valor da inscrição será de R$ 35. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) confirmou que o Enem será realizado neste ano em 22 e 23 de outubro. No ano que vem, haverá duas edições do exame - uma em 28 e 29 de abril e outra no segundo semestre de 2012, em data a ser definida.

Durante os dois dias de prova, os estudantes não poderão usar lápis, lapiseira nem borracha. O uso de relógio também será proibido - cada sala deverá contar com um marcador de tempo. Os estudantes terão os aparelhos de celular guardados em local lacrado ao entrarem nas 140 mil salas de aplicação do exame. O edital deste ano não prevê aos inscritos o direito a pedido de revisão ou de vista das provas. Devido à dimensão do exame, o Inep considera inviável considerar esses pedidos.

No ano passado, o Enem foi marcado por falhas de encadernação na prova amarela e pela troca de cabeçalho no cartão resposta, o que levou muitos estudantes a se confundirem no preenchimento do gabarito e solicitarem a correção invertida. Em 2009, a prova vazou, conforme revelou o Grupo O Estado de S. Paulo.

Após essas duas edições marcadas por uma série de problemas, o Inep recorreu a uma empresa de gestão de riscos, que receberá até R$ 5 milhões, e ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) para evitar imprevistos. O Inep também instituiu um grupo de operações de logística para monitorar desde a impressão do exame até a aplicação da prova nas salas.

Bolívia cria Lei da Mãe Terra


A Bolívia está em vias da aprovar a primeira legislação mundial dando à natureza direitos iguais aos dos humanos. A Lei da Mãe Terra, que conta com apoio de políticos e grupos sociais, é uma enorme redefinição de direitos. Ela qualifica os ricos depósitos minerais do país como "bençãos", e se espera que promova uma mudança importante na conservação e em medidas sociais para a redução da poluição e controle da indústria, em um país que tem sido há anos destruído por conta de seus recursos, informa oCelsias.

Na Conferência do Clima de Cancun, a Bolívia destoou da maioria quando declarou que todo o processo era uma farsa, e que países em desenvolvimento não apenas estavam carregando a cruz da mudança do clima como, com novas medidas, teriam de cortar também mais suas emissões.

A Lei da Mãe Terra vai estabelcer 11 direitos para a natureza, incluindo o direito à vida, o direito da continuação de ciclos e processos vitais livres de alteração humana, o direito a água e ar limpos, o direito ao equilíbrio, e o direito de não ter estruturas celulares modificadas ou alteradas geneticamente. Ela também vai assegurar o direito de o país "não ser afetado por megaestruturas e projetos de desenvolvimento que afetem o equilíbrio de ecossistemas e as comunidades locais".

Segundo o vice-presidente Alvaro García Linera. "ela estabelece uma nova relação entre homem e natureza. A harmonia que tem de ser preservada como garantia de sua regeneração. A terra é a mãe de todos". O presidente Evo Morales é o primeiro indígena americano a ocupar tal cargo, e tem sido um crítico veemente de países industrializados que não estão dispostos a manter o aquecimento da temperatura em um grau. É compreensível, já que o grau de aquecimento, que poderia chegar de 3.5 a 4 graus centígrados, dadas tendências atuais, significaria a desertifição de grande parte da Bolívia.

Esta mudança significa a ressurgência da visão de um mundo indígena andino, que coloca a deusa da Terra e do ambiente, Pachamama, no centro de toda a vida. Esta visão considera iguais os direitos humanos e de todas as outras entidades. A Bolivia sofre há tempos sérios problema ambientais com a mineração de alumínio, prata, ouro e outras matérias primas.

O ministro do exterior David Choquehuanca disse que o respeito tradicional dos índios por Pachamama é vital para impedir a mudança do clima. "Nossos antepassados nos ensinaram que pertencemos a uma grande família de plantas e animais. Nós, povos indígenas, podemos com nossos valores contribuir com a solução das crises energética, climática e alimentar". Segundo a filosofia indígena, Pachamama é "sagrada, fértil e a fonte da vida que alimenta e cuida de todos os seres viventes em seu ventre."

Ilustração: Jonata / Open Clipart

sábado, 21 de maio de 2011

A inescrutável hipocrisia do discurso do presidente Obama sobre o Oriente Médio


por Brian Becker e Mara Verheyden-Hilliard

para a organização ANSWER (Act Now to Stop War and End Racism)

tradução: Max Altman

O presidente Obama foi ao ar hoje para falar sobre as revoltas e os conflitos que se espalham pelo Oriente Médio. A hegemonia dos Estados Unidos sobre está região estratégica e rica em petróleo tem sido o pivô da política externa de Washington por décadas. Utilizando um sistema de poder e de regimes submissos, a par de suas vastas forças militares na região, os Estados Unidos vêm sustentando uma rede de ditaduras brutais e o regime israelense por décadas.

Este sistema de controle imperial vem sendo sacudido por levantes populares que começaram na Tunísia e se espraiaram para o Egito e outros países. Sobre esta conjuntura, a administração Obama se pronunciou hoje na sede do Departamento de Estado como parte de um esforço para reafirmar a liderança norte-americana sobre a região ora em processo de célere mudança.

Valendo-se da retórica de democracia e liberdade para mascarar a responsabilidade do imperialismo norte-americano na duradoura opressão e sofrimento por que passam os povos do Oriente Médio, o discurso do presidente Obama foi uma demonstração de inescrutável hipocrisia.

Hipocrisia: o presidente Obama disse que “o maior recurso não explorado no Oriente Médio e Norte da África é o talento de seus povos”.

Realidade: a estratégia dos Estados Unidos é baseada no controle do mais cobiçado recurso do Oriente Médio: dois terços das reservas mundiais conhecidas de petróleo. O governo de Washington forneceu bilhões de dólares e armou as mais brutais ditaduras do Oriente Médio durante décadas, uma prática a que a administração Obama deu ampla continuidade. O governo dos Estados Unidos jamais bloqueou ou cortou os fundos destinados à ditadura de Mubarak ainda quando o regime matara mais de 850 pacíficos manifestantes. Mais de 5 mil civis no Egito foram acusados e presos desde 25 de janeiro em julgamentos conduzidos pelos militares egípcios. Os Estados Unidos continuam a enviar maciças somas aos militares egípcios a despeito da continua repressão contra o povo.

Hipocrisia: O presidente Obama declarou: “a política dos Estados Unidos será de promover reformas em toda a região e de apoiar as transições para a democracia.”

Realidade: Os únicos governos do Oriente Médio que foram objeto de invasão, sanções econômicas e derrubadas pelo governo dos Estados Unidos foram aqueles que seguem políticas independentes do controle, político, militar e econômico dos Estados Unidos. Washington jamais impôs sanções econômicas à ditadura de Mubarak e somente se manifestou publicamente contra Mubarak quando a maré da revolução tornou-se irresistível. Do mesmo modo, os Estados Unidos apóiam a brutal monarquia da Arábia Saudita.

Hipocrisia: o presidente Obama advoga para os povos do Oriente Médio os “direitos fundamentais de expressar seu pensamento e ter acesso às informações”, afirmando que, “a verdade não pode ser escondida e a legitimidade dos governos vai depender em última instância de cidadãos ativos e bem informados.”

Realidade: a administração Obama exorbitou ao punir aqueles que queriam informar o público ao jogar luz sobre as atividades do governo norte-americano. Bradley Manning permanece em prisão sob ameaça de prisão perpétua, sendo mantido em brutais condições que levaram o Relator Especial sobre Tortura das Nações Unidas a buscar investigação. O Departamento de Justiça está trabalhando à máxima velocidade para processar Julian Assange do Wikileaks por abrir documentos governamentais ao público, muitos dos quais expõem o papel dos Estados Unidos no Oriente Médio. O governo Obama leva a cabo uma grande campanha, mais agressiva do que qualquer governo anterior, a fim de processar criminalmente informantes que exponham a verdade sobre ações governamentais ilegais.

Hipocrisia: o presidente Obama declarou: “Os Estados Unidos se opõem ao uso da violência e da repressão contra o povo da região.”

Realidade: Os Estados Unidos sob Obama estão envolvidos na invasão, ocupação e bombardeio ao mesmo tempo de quarto países predominantemente muçulmanos: Iraque, Afeganistão, Líbia e Paquistão. Além do mais, o chefe de Estado, isoladamente o maior violador dos direitos humanos fundamentais e perpetuador da violência na região, é George W. Bush, cuja invasão ilegal do Iraque custou a vida de mais de um milhão de pessoas. A invasão de 19 de março de 2003 foi uma guerra de agressão contra um país que não constituía nenhuma ameaça aos Estados Unidos ou ao povo dos Estados Unidos. A invasão e ocupação do Iraque levaram à morte de mais árabes do que os que foram mortos por todas as ditaduras da região somadas. O presidente Obama chamou Osama Bin Laden de assassino em massa. O 11 de setembro de 2001 foi de fato um repugnante crime que tirou a vida de milhares de trabalhadores inocentes, mas medindo-se na ordem de magnitude de vítimas fatais, o crime de assassinato em massa no Iraque não tem comparação. George W. Bush não só não foi preso por assassinato em massa do povo iraquiano como é tratado com honras pela administração Obama.

Hipocrisia: Numa tentativa de apaziguar a opinião pública árabe, o discurso do presidente Obama dá a impressão que os Estados Unidos insistem com o retorno de Israel às fronteiras anteriores a 1967. Obama afirmou “precisamente devido a nossa amizade é importante que eu diga a verdade: o status quo é insustentável e Israel também deve agir corajosamente em direção a uma paz duradoura.”

Realidade: A guerra de Israel contra o povo palestino seria impossível sem o apoio dos Estados Unidos, que segue constante. O maior destinatário individual da ajuda externa dos Estados Unidos é o Estado de Israel, que usa os 3 bilhões de dólares de receita anualmente para manter o sítio ao povo de Gaza, continuar a ocupação ilegal da Cisjordânia e evitar o retorno das famílias de 750 mil palestinos que foram expulsos de suas casas e aldeias da Palestina histórica em 1948. As Nações Unidas, em várias resoluções, condenaram a invasão e ocupação israelense em 1967 de Gaza, da Cisjordânia e das Colinas de Gola da Síria. Longe de impor sanções econômicas, o presidente Obama prometeu a Israel um mínimo de 30 bilhões de dólares em ajuda militar para os próximos 10 anos, funcionando, portanto, como um parceiro da ocupação. O discurso de Obama deixou claro também que os Estados Unidos apoiariam Israel na retenção de vastas faixas da Cisjordânia. Isto é o que ele quis dizer ao se referir a “permuta de terras”. Nos próximos dias, Obama manterá encontros privados com Benjamin Netanyahu e será o orador principal da conferência do AIPAC (American Israel Public Affairs Committee). Com certeza, irá reforçar os fortes vínculos militares com Israel e a ajuda financeira.

Hipocrisia: o presidente Obama declarou: “Nós apoiamos um conjunto de direitos universais. Esses direitos incluem liberdade de expressão; liberdade de reuniões pacíficas; liberdade de religião; igualdade entre homem e mulher sob o império da lei e liberdade para escolher seus próprios líderes – onde quer que você viva em Bagdá ou Damasco, Sanaa ou Teerã ... Continuaremos a insistir que esses direitos universais se apliquem tanto às mulheres quanto aos homens.”

Realidade: Enquanto o governo dos Estados Unidos, junto com a Inglaterra e a França, os antigos colonizadores do Oriente Médio e da África, bombardeavam a Líbia com mísseis e bombas de última geração em nome da “proteção aos civis” e da “promoção da democracia”, o governo Obama apresentava a mais morna crítica à monarquia do Bahrein quando esta e a monarquia saudita matavam e prendiam manifestantes pacíficos no Bahrein. Nenhuma sanção foi imposta ao Bahrein ou Arábia Saudita. A monarquia saudita é a suprema negação de democracia, privando as mulheres de todos os direitos, privando os trabalhadores de formar sindicatos e privando todos os setores da população de qualquer direito de livre manifestação, reunião ou imprensa. Nunca houve eleição na Arábia Saudita. Porém as funções da monarquia saudita como cliente e submissa dos Estados Unidos não fazem dela objeto de sanções econômicas ou “mudança de regime” como o são os governos da Síria e da Líbia. A monarquia do Bahrein igualmente funciona como cliente dos Estados Unidos e permite que a 5ª Frota utilize o Bahrein como base naval. Eis o motivo por quê Washington refere-se à monarquia como “um parceiro de longa data”.

Hipocrisia: O presidente Obama denunciou o governo do Irã, afirmando que “iremos continuar a insistir que o povo iraniano merece ter direitos universais” e condenou o que ele chamou de “programa nuclear ilícito” do Irã.

Realidade: Ele deixou de mencionar que foi a CIA junto com o serviço secreto britânico que orquestrou a derrubada do governo democrático do Irã em 1953 e reinstalou a monarquia do Xá. Eles derrocaram a democracia iraniana quando o Irã nacionalizou seu petróleo da AIOC/British Petroleum. Os Estados Unidos só romperam relações com o governo iraniano quando a ditadura do xá foi derrocada por uma revolução nacional popular. Com relação às armas nucleares, o governo de Israel recusou-se a assinar o tratado de não-proliferação nuclear e acumulou 200 “ilícitas” armas nucleares. É claro, os Estados Unidos têm milhares de armas nucleares e permanece sendo o único país a ter usado armas nucleares, destruindo Hiroshima e Nagasaki em 1945.

Hipocrisia: o presidente Obama diz ao mundo que os Estados Unidos partilham dos objetivos da revolução árabe, que “a repressão irá fracassar, que as tiranias irão cair, e que todo homem e mulher são dotados de certos direitos inalienáveis.”

Realidade: O governo dos Estados Unidos, seja ele comandado pelos republicanos ou democratas, vê o Oriente Médio, rico em petróleo, pelas lentes do império. Operando por meio de uma rede de regimes amigos que inclui Israel, Arábia Saudita, Jordânia, a ditadura de Mubarak no Egito, o xá do Irã até sua deposição em 1979 e outros regimes da região, suplementado por dezenas de milhares de tropas norte-americanas posicionadas em bases de toda a região, e por porta-aviões, os Estados Unidos almejam dominar e controlar a região responsável por dois terços das reservas mundiais de petróleo conhecidas. Mantém e continua a financiar uma rede de ditaduras submissas brutais, financia a máquina de Guerra israelense e leva a efeito repetidas invasões, bombardeios e ocupações contra os povos da região.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O livro didático e a ignorância jornalística


Polêmica ou ignorância?

Discussão sobre livro didático só revela ignorância da grande imprensa

Por Marcos Bagno – Universidade de Brasília (17/05/11)

Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).

Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e o branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.

Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).

Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.

Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme,
que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).

O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que a defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente.

Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?

Fonte: http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=745

Netanyahu rejeita Estado palestino




19 de maio de 2011 | 15h 41

Associated Press

JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu,
rejeitou nesta quinta-feira, 19, o principal ponto do discurso do
presidente americano, Barack Obama, que defendia o retorno de Israel
às fronteiras de 1967 para que a paz fosse acordada com os palestinos.
O líder israelense falou que tais condições representariam o desastre
do Estado judeu.

Retorno às fronteiras de antes de 1967 é algo 'indefensável', diz Netnayahu



Em comunicado divulgado pelo governo israelense, Netanyahu afirma que
o retorno às fronteiras de antes de 1967 - quando Israel ocupou os
territórios palestinos - é algo "indefensável". Segundo ele, a
retirada de Israel de tais áreas comprometeria a segurança de seu país
e colocaria assentamentos fora dos limites israelenses.

O premiê encontra-se na sexta com Obama na Casa Branca justamente para
discutir a paz com os palestinos. O histórico posicionamento de Obama
favorável a um Estado palestino e a rápida e ríspida resposta de
Netanyahu devem dar um tom tenso à reunião.

No discurso desta quinta, Obama disse ser a favor da criação de um
Estado palestino baseado nas fronteiras de 1967 e desmilitarizado. O
líder americano também pediu que os palestinos reconheçam Israel e
pressionou ambas as partes a retomar as negociações de paz.

As negociações de paz entre israelenses e palestinos estão estagnadas
desde setembro do ano passado, quando Israel retomou a construção de
assentamentos na Cisjordânia depois de uma paralisação de seis meses.
Os palestinos exigem o fim da expansão das colônias, enquanto os
israelenses não aceitam dialogar enquanto o Hamas integrar o governo
palestino, o que deve ocorrer com um acordo fechado entra a facção
radical e o Fatah. As informações são da Dow Jones.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Brasil: as novas táticas da repressão política


Além de utilizar a polícia para perseguir os lutadores sociais, agora, além da violência direta, os poderes do Estado movem processos jurídicos para intimidar os ativistas.

Por Lúcia Rodrigues

A ditadura militar acabou, mas alguns resquícios desse passado sombrio nunca foram enterrados e teimam em se perpetuar como verdadeiros fantasmas que pairam sobre as cabeças daqueles que resistem e não se curvam diante das imposições dos donos do poder.

A perseguição aos que ousam se levantar contra as injustiças sociais neste país continua regra. E a criminalização da luta dos ativistas do campo e da cidade, uma constante. Apesar das torturas e dos assassinatos não terem deixado de ocorrer, principalmente nos rincões mais afastados deste país e nas periferias das grandes cidades, a repressão inovou em seu modo de agir. Sofisticou o discurso, para transmitir um ar de legalidade às ações.

Se durante os anos de chumbo, o Estado prendia, torturava e assassinava, pura e simplesmente, sem se preocupar com as consequências de seus atos, na democracia formal lança mão de recursos mais refinados para alcançar seus objetivos. Agora, lideranças populares do campo e da cidade são obrigadas a conviver também com o medo da punição legal.

Uma avalanche de processos é impetrada todos os dias contra ativistas populares de norte a sul do país. Em muitos casos, o aparato processual resulta na prisão dessas lideranças. Esse foi o verniz encontrado para revestir e encobrir as verdadeiras intenções da criminalização dos movimentos sociais.

A aversão a qualquer forma de mudança, que faça pender a balança para o lado dos mais pobres, é vista como uma ameaça real e movimenta a força motriz dessa engrenagem que envolve os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, a mídia, o aparato militar e as forças policiais a serviço do poder econômico.

Para ler a reportagem completa e outras matérias confira edição de maio da revista Caros Amigos, já nas bancas.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quatro frases que fazem o nariz do Pinóquio crescer


16 de maio de 2011

Por Eduardo Galeano
Escritor e jornalista uruguaio

1 – Somos todos culpados pela ruína do planeta

A saúde do mundo está feito um caco. ‘Somos todos responsáveis’, clamam as vozes do alarme universal, e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, ninguém é. Como coelhos, reproduzem-se os novos tecnocratas do meio ambiente. É a maior taxa de natalidade do mundo: os experts geram experts e mais experts que se ocupam de envolver o tema com o papel celofane da ambiguidade. Eles fabricam a brumosa linguagem das exortações ao ‘sacrifício de todos’ nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre.
Estas cataratas de palavras – inundação que ameaça se converter em uma catástrofe ecológica comparável ao buraco na camada de ozônio – não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial asfixia a realidade para outorgar impunidade à sociedade de consumo, que é imposta como modelo em nome do desenvolvimento, e às grandes empresas que tiram proveito dele. Mas, as estatísticas confessam..
Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20 por cento da humanidade cometem 80 por cento das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam de suicídio, e é a humanidade inteira que paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima e da dilapidação dos recursos naturais não-renováveis.
A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que, se os 7 bilhões de habitantes do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, “faltariam 10 planetas como o nosso para satisfazerem todas as suas necessidades.” Uma experiência impossível.
Mas, os governantes dos países do Sul que prometem o ingresso no Primeiro Mundo, mágico passaporte que nos fará, a todos, ricos e felizes, não deveriam ser só processados por calote. Não estão só pegando em nosso pé, não: esses governantes estão, além disso, cometendo o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que está fazendo adoecer nosso corpo, está envenenando nossa alma e está deixando-nos sem mundo.
2 – É verde aquilo que se pinta de verde
Agora, os gigantes da indústria química fazem sua publicidade na cor verde, e o Banco Mundial lava sua imagem, repetindo a palavra ecologia em cada página de seus informes e tingindo de verde seus empréstimos. “Nas condições de nossos empréstimos há normas ambientais estritas”, esclarece o presidente da suprema instituição bancária do mundo. Somos todos ecologistas, até que alguma medida concreta limite a liberdade de contaminação.

Quando se aprovou, no Parlamento do Uruguai, uma tímida lei de defesa do meio-ambiente, as empresas que lançam veneno no ar e poluem as águas sacaram, subitamente, da recém-comprada máscara verde e gritaram sua verdade em termos que poderiam ser resumidos assim: “os defensores da natureza são advogados da pobreza, dedicados a sabotarem o desenvolvimento econômico e a espantarem o investimento estrangeiro.”
O Banco Mundial, ao contrário, é o principal promotor da riqueza, do desenvolvimento e do investimento estrangeiro. Talvez, por reunir tantas virtudes, o Banco manipulará, junto à ONU, o recém-criado Fundo para o Meio-Ambiente Mundial. Este imposto à má consciência disporá de pouco dinheiro, 100 vezes menos do que haviam pedido os ecologistas, para financiar projetos que não destruam a natureza. Intenção inatacável, conclusão inevitável: se esses projetos requerem um fundo especial, o Banco Mundial está admitindo, de fato, que todos os seus demais projetos fazem um fraco favor ao meio-ambiente.
O Banco se chama Mundial, da mesma forma que o Fundo Monetário se chama Internacional, mas estes irmãos gêmeos vivem, cobram e decidem em Washington. Quem paga, manda, e a numerosa tecnocracia jamais cospe no prato em que come. Sendo, como é, o principal credor do chamado Terceiro Mundo, o Banco Mundial governa nossos escravizados países que, a título de serviço da dívida, pagam a seus credores externos 250 mil dólares por minuto, e lhes impõe sua política econômica, em função do dinheiro que concede ou promete.
A divinização do mercado, que compra cada vez menos e paga cada vez pior, permite abarrotar de mágicas bugigangas as grandes cidades do sul do mundo, drogadas pela religião do consumo, enquanto os campos se esgotam, poluem-se as águas que os alimentam, e uma crosta seca cobre os desertos que antes foram bosques.

3 – Entre o capital e o trabalho, a ecologia é neutra

Poder-se-á dizer qualquer coisa de Al Capone, mas ele era um cavalheiro: o bondoso Al sempre enviava flores aos velórios de suas vítimas... As empresas gigantes da indústria química, petroleira e automobilística pagaram boa parte dos gastos da Eco 92: a conferência internacional que se ocupou, no Rio de Janeiro, da agonia do planeta. E essa conferência, chamada de Reunião de Cúpula da Terra, não condenou as transnacionais que produzem contaminação e vivem dela, e nem sequer pronunciou uma palavra contra a ilimitada liberdade de comércio que torna possível a venda de veneno.

No grande baile de máscaras do fim do milênio, até a indústria química se veste de verde. A angústia ecológica perturba o sono dos maiores laboratórios do mundo que, para ajudarem a natureza, estão inventando novos cultivos biotecnológicos. Mas, esses desvelos científicos não se propõem encontrar plantas mais resistentes às pragas sem ajuda química, mas sim buscam novas plantas capazes de resistir aos praguicidas e herbicidas que esses mesmos laboratórios produzem. Das 10 maiores empresas do mundo produtoras de sementes, seis fabricam pesticidas (Sandoz-Ciba-Geigy, Dekalb, Pfizer, Upjohn, Shell, ICI). A indústria química não tem tendências masoquistas.

A recuperação do planeta ou daquilo que nos sobre dele implica na denúncia da impunidade do dinheiro e da liberdade humana. A ecologia neutra, que mais se parece com a jardinagem, torna-se cúmplice da injustiça de um mundo, onde a comida sadia, a água limpa, o ar puro e o silêncio não são direitos de todos, mas sim privilégios dos poucos que podem pagar por eles. Chico Mendes, trabalhador da borracha, tombou assassinado em fins de 1988, na Amazônia brasileira, por acreditar no que acreditava: que a militância ecológica não pode divorciar-se da luta social. Chico acreditava que a floresta amazônica não será salva enquanto não se fizer uma reforma agrária no Brasil. Cinco anos depois do crime, os bispos brasileiros denunciaram que mais de 100 trabalhadores rurais morrem assassinados, a cada ano, na luta pela terra, e calcularam que quatro milhões de camponeses sem trabalho vão às cidades deixando as plantações do interior. Adaptando as cifras de cada país, a declaração dos bispos retrata toda a América Latina. As grandes cidades latino-americanas, inchadas até arrebentarem pela incessante invasão de exilados do campo, são uma catástrofe ecológica: uma catástrofe que não se pode entender nem alterar dentro dos limites da ecologia, surda ante o clamor social e cega ante o compromisso político.

4 – A natureza está fora de nós

Em seus 10 mandamentos, Deus esqueceu-se de mencionar a natureza. Entre as ordens que nos enviou do Monte Sinai, o Senhor poderia ter acrescentado, por exemplo: “Honrarás a natureza, da qual tu és parte.” Mas, isso não lhe ocorreu. Há cinco séculos, quando a América foi aprisionada pelo mercado mundial, a civilização invasora confundiu ecologia com idolatria.
A comunhão com a natureza era pecado. E merecia castigo. Segundo as crônicas da Conquista, os índios nômades que usavam cascas para se vestirem jamais esfolavam o tronco inteiro, para não aniquilarem a árvore, e os índios sedentários plantavam cultivos diversos e com períodos de descanso, para não cansarem a terra. A civilização, que vinha impor os devastadores monocultivos de exportação, não podia entender as culturas integradas à natureza, e as confundiu com a vocação demoníaca ou com a ignorância. Para a civilização que diz ser ocidental e cristã, a natureza era uma besta feroz que tinha que ser domada e castigada para que funcionasse como uma máquina, posta a nosso serviço desde sempre e para sempre.
A natureza, que era eterna, nos devia escravidão. Muito recentemente, inteiramo-nos de que a natureza se cansa, como nós, seus filhos, e sabemos que, tal como nós, pode morrer assassinada. Já não se fala de submeter a natureza. Agora, até os seus verdugos dizem que é necessário protegê-la. Mas, num ou noutro caso, natureza submetida e natureza protegida, ela está fora de nós. A civilização, que confunde os relógios com o tempo, o crescimento com o desenvolvimento, e o grandalhão com a grandeza, também confunde a natureza com a paisagem, enquanto o mundo, labirinto sem centro, dedica-se a romper seu próprio céu.

sábado, 14 de maio de 2011

Desigualdade: Percentual de negros no ensino superior é metade do de brancos


Apesar das políticas afirmativas adotadas pelas universidades brasileiras para ampliar o acesso da população negra ao ensino superior, 123 anos depois da Abolição da Escravatura permanece o hiato em relação à população branca. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que entre 1997 e 2007 o acesso dos negros ao ensino superior cresceu, mas continua sendo metade do verificado entre os brancos.

Entre os jovens brancos com mais de 16 anos, 5,6% frequentavam o ensino superior em 2007, enquanto entre os negros esse percentual era 2,8%. Em 1997, esses patamares estavam em 3% e 1%, respectivamente.

Para o professor Nelson Inocêncio da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), a velocidade lenta do impacto das políticas públicas ocorre em função dos anos de atraso do País para reconhecer as diferenças de oportunidades dadas a negros e brancos.

“O Estado brasileiro se absteve por muito tempo e ficou ausente no que diz respeito à questão das políticas públicas para essa população. Falamos de 1888, final do século 19, e terminamos a primeira década do século 21 com problemas seríssimos no que diz respeito à população negra”, afirma.

A UnB foi a primeira federal a implantar o sistema de cotas para negros no vestibular e 4 mil alunos já ingressaram na universidade por esse mecanismo. Silva acredita que esses números devem ter avançado desde 2007, já que atualmente cerca de 100 instituições públicas de ensino superior adotam algum tipo de política afirmativa. O principal benefício que as cotas terão no futuro, na avaliação dele, é aumentar a representação dos negros em cargos importantes.

“Quando falamos de universidades federais, não há dúvida de que elas formam pessoas que cedo ou tarde vão participar da classe dirigente deste País. Então sabemos que, pelo menos com essa formação, o aluno terá no futuro uma situação diferenciada”, ressalta o professor.

De acordo com o último Censo da Educação Superior, 10% dos ingressos de novos alunos nas universidades públicas ocorreram por meio de sistemas de reserva de vagas. Os dados apontam que 69% usaram como critério o fato de o candidato ter ou não estudado em escola pública. Um quarto das reservas de vagas foi preenchido a partir de critérios etnorraciais. Desde a sua implantação na UnB em 2004, o sistema de cotas tem sido muito criticado por ser considerado injusto com o restante dos estudantes não negros. Silva ressalta que ele precisa ser analisado do ponto de vista histórico.

“Não é possível a gente querer entender a partir do aqui e agora, é preciso voltar ao século 19, às políticas do Estado brasileiro de favorecimento das populações europeias para entender porque afinal de contas temos que desenvolver uma política de inclusão da população negra. Essas políticas atuais não são fruto de nenhum devaneio, elas são necessidades que foram esquecidas”, aponta.

Em outras etapas do ensino também há desigualdade entre negros e brancos. O último censo do IBGE aponta que, entre os 14 milhões de brasileiros com mais de 15 anos que são analfabetos, 30% são brancos e 70% são pretos ou pardos.

Fonte: Portal Brasil

Proposta fixa pena para fraude em vestibular


A Câmara analisa o Projeto de Lei 327/11, do deputado Hugo Leal (PSC-RJ), que estabelece pena de reclusão de dois a seis anos, além de multa, para o crime de fraude em concurso público ou exame vestibular.

A proposta acrescenta artigo ao Código Penal. O deputado explica que o projeto busca preencher uma lacuna, já que ainda não existe legislação específica para o ato de fraudar concursos públicos, e esse crime precisa ser enquadrado em outros artigos do código.

Para o autor, esse tipo de fraude tem semelhanças com o crime de falsificação e, por isso, deve ser enquadrado na mesma parte do código. “Esse tipo de fraude é grave, pois agride a fé pública, que é baseada exatamente na confiança dos cidadãos nas instituições, sendo que essa confiança é essencial para a vida em sociedade”, explica.

Hugo Leal afirma que os órgãos públicos têm buscado cada vez mais atuar com seriedade na elaboração de processos seletivos, mas, apesar dos esforços adotados pelas bancas examinadoras, as fraudes continuam ocorrendo. “Pessoas envolvidas utilizam-se de técnicas cada vez mais sofisticadas, tentando sempre burlar o sigilo e a segurança para que candidatos ligados ao esquema ilícito consigam ser aprovados”, diz.

Tramitação
O projeto tramita apensado ao PL 1086/99, que trata de assunto semelhante. As propostas serão analisadas pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e pelo Plenário.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Isenção Unicamp: Atenção! O prazo é curto.


A Unicamp (Universidade de Campinas), por meio da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) abriu o período para pedido de isenção da taxa de inscrição do Vestibular Unicamp 2012.

As inscrições devem ser realizadas até dia 31 de maio, exclusivamente pela internet, no link:http://www.comvest.unicamp.br/vest2012/isencao/inscricao.html

O candidato deve enviar a documentação necessária (descrita no Edital), pelo correio, para a Comvest até o dia 31 de maio.

A Educafro concorre ao Prêmio João Ferrador


Este Importante Prêmio será entregue a uma entidade e uma personalidade escolhidas pelo voto direto dos trabalhadores.

Criado em 2009, pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o prêmio tem o objetivo de reconhecer e premiar personalidades e instituições que contribuem com a promoção da cidadania, dos direitos humanos e sociais, da Justiça e da democracia.

Este ano a Educafro concorre como uma das três Instituições previamente indicadas pelos trabalhadores.

Vamos votar através do link em nosso Site.

O Prêmio será entregue a Instituição vencedora em 12/05.

É a Educafro indicada a este importante prêmio no reconhecimento de suas lutas!

Vote com convicção e firmeza!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A segunda morte de Osama bin Laden


por Paul Craig Roberts

Se hoje fosse 1º de Abril e não 2 de Maio, podíamos ignorar como uma brincadeira a manchete desta manhã de que Osama bin Laden foi morto num combate armado no Paquistão e rapidamente lançado ao mar. No actual estado de coisas, devemos considerar isto como prova adicional de que o governo estado-unidense tem uma fé ilimitada na credulidade dos americanos.

Pense nisso. Quais são as probabilidades de uma pessoa que alegadamente sofre dos rins e precisa de diálise, e que além disso é afligido por diabete e baixa tensão arterial, sobreviva em esconderijos na montanha durante uma década? Se bin Laden fosse capaz de adquirir o equipamento de diálise e os cuidados médicos que as suas condições requeriam, será que o despacho do equipamento de diálise não apontaria a sua localização? Por que foram precisos dez anos para encontrá-lo?

Considere também as afirmações, repetidas pelos media triunfalistas dos EUA a celebrarem a morte de bin Laden, que "bin Laden utilizou seus milhões para financiar campos terroristas no Sudão, nas Filipinas e no Afeganistão, enviando 'guerreiros sagrados' para fomentar a revolução e combater com forças fundamentalistas muçulmanas no Norte da África, Chechénia, Tajiquistão e Bósnia". Isso é um bocado de actividade para ser financiado por uns meros milhões (talvez os EUA devessem tê-los colocado na conta do Pentágono), mas a questão principal é: como é que bin Laden foi capaz de movimentar o seu dinheiro de um lado para o outro? Que sistema bancário o ajudou? O governo estado-unidense tem êxito em apresar os activos de povos de países inteiros, sendo a Líbia o mais recente. Por que não os de bin Laden? Estaria ele a carregar consigo US$100 milhões em moedas de ouro e a enviar emissários para distribuir os pagamentos das suas operações dispersas por lugares remotos?

A manchete desta manhã tem o odor de um evento encenado. O fedor emana dos noticiários triunfalistas carregados de exageros, dos celebrantes que ondeiam bandeiras e cantam "USA, USA". Poderia algo diferente estar em curso?

Não há dúvida de que o presidente Obama precisa desesperadamente de uma vitória. Ele cometeu o erro do idiota ou o recomeço da guerra no Afeganistão e agora, após uma década, os EUA enfrentam o impasse, se não a derrota. As guerras dos regimes Bush/Obama levaram os EUA à bancarrota, deixando no seu rastro enormes défices e um dólar em declínio. E o momento da re-eleição está a aproximar-se.

As várias mentiras e enganos, tais como "armas de destruição maciça", das últimas administrações têm consequências terríveis para os EUA e o mundo. Mas nem todos os enganos são o mesmo. Recordem, toda a razão para invadir o Afeganistão era em primeiro lugar para apanhar bin Laden. Agora que o presidente Obama declarou que bin Laden levou um tiro na cabeça, dado pelas forças especiais dos EUA a operarem num país independente e que estas o lançaram ao mar, não há razão para continuar a guerra.

Talvez o declínio precipitado do US dólar nos mercados de câmbio estrangeiros tenha forçado algumas reduções reais no orçamento, as quais só podem vir da travagem de guerra ilimitadas. Até o declínio do dólar ter atingido o ponto de ruptura, Osama bin Laden, o qual muitos peritos acreditam ter sido morto há anos, era um bicho-papão útil para alimentar os lucros do complexo militar e de segurança dos EUA.
02/Maio/2011