segunda-feira, 25 de julho de 2011

Brasil, o campeão mundial no uso de agrotóxicos



Por Gerson Freitas Jr.Do Valor



O Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos e se tornar o maior mercado mundial de agrotóxicos ainda em 2011, com vendas superiores a US$ 8 bilhões. Com o bom desempenho das vendas do insumo no primeiro semestre e a forte alta nos preços das principais commodities, o setor reviu suas estimativas e espera uma crescimento de até 10% na receita com as vendas.

Isso significa que o mercado pode crescer duas vezes mais do que se previa no início do ano. As projeções iniciais do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) indicavam uma expansão de 4,5%, ritmo compatível com o crescimento então esperado para a economia brasileira.

Nesse cenário, o país provavelmente continuaria em segundo lugar no ranking global. Mas Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que congrega apenas os grandes players globais, como Monsanto, Bayer, Basf, DuPont e Syngenta, não tem dúvidas.

"Se ainda não é, o Brasil será o maior mercado de agroquímicos do mundo até o fim de 2011", prevê.

Estima-se que mercado americano tenha movimentado US$ 7,8 bilhões em 2010. Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), esse número caiu 4,8% entre 1998, quando foi recorde, e 2007, último ano da série. Em 2010, as vendas no Brasil atingiram US$ 7,3 bilhões, com crescimento de 9%.

Os EUA cultivam uma área 50% maior e ostentam uma produção de grãos que supera em três vezes e meia a brasileira. Daher rejeita a comparação e o título de "campeão mundial no uso de agrotóxicos", associado ao uso indiscriminado desses produtos.

De posse de um estudo publicado recentemente pela consultoria Kleffmann, ele afirma que as vendas cresceram apenas 1,5% entre 2004 e 2009, quando analisada a receita por tonelada de alimento produzido.

Sob essa ótica, o consumo no Brasil teria crescido menos que em países como França (28,6%) e Japão (19,34%). Os americanos, em compensação, reduziram seu uso em 6% neste período, ainda de acordo com o critério adotado pela Kleffmann.

Daher pondera que americanos estão bastante à frente no uso de sementes transgênicas que, em alguns casos, dispensam o uso de agrotóxicos. E observa que o Brasil, por suas características climáticas, tem uma maior propensão ao uso de agroquímicos. "O bônus de ser um país tropical é que você planta duas, até três safras por ano. O ônus é que você tem uma incidência muito maior de pragas".

"Só as vendas de fungicidas para combater a ferrugem asiática da soja, doença inexistente nas lavouras dos EUA, movimenta US$ 1 bilhão no Brasil", estima José Roberto Da Ros, presidente do Sindag.

A participação do fungicidas nesse mercado mais que dobrou desde 2004, quando a ferrugem da soja tornou-se um problema sério no Brasil. Não à toa, em 2010, mais de 44% das vendas foram destinadas ao trato da soja. O algodão, cuja área plantada cresceu mais de 60% na última safra, é a segunda lavoura mais importante, com 11% de participação na receita desta indústria. Segundo Daher, a expansão do algodão explica o crescimento de mais de 30% nas vendas de inseticidas neste ano.

Outro fator relevante é o aumento do poder de compra dos produtores, reflexo da alta das commodities e da redução nos preços de alguns defensivos. Em 2009, por exemplo, um sojicultor pagava o equivalente a 2,5 sacas do grão para cada cinco litros do herbicida glifosato, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA). Em janeiro deste ano, gastava apenas uma.

domingo, 17 de julho de 2011

São Paulo e Rio passam a "exportar" moradores


Principais destinos de migrantes entre anos 60 e 80, Estados registram movimento inverso na última década, segundo o IBGE; tendência atual é de


Luciana Nunes Leal, de O Estado de S. Paulo

RIO - Estudo divulgado nesta sexta-feira, 15, pelo IBGE sobre deslocamento da população brasileira indica a diminuição da migração interna e a tendência de permanência ou de retorno de moradores a seus Estados de origem. Em vez da corrida para o Sudeste que marcou as décadas de 1960 a 1980, a tendência é de deslocamentos entre municípios de um mesmo Estado e queda acentuada nas migrações entre regiões. A última década aponta ainda para mudanças nas correntes migratórias, em que Rio de Janeiro e São Paulo deixam de ser "importadores" e passam a "exportadores" de moradores, enquanto o Espírito Santo desponta como foco de atração de novos habitantes.

Os principais fatores para a diminuição no número de migrantes são a saturação das metrópoles e a melhor distribuição da oferta de emprego. Os dados apontam a tendência de deslocamento para cidades de médio porte. "A principal motivação para a migração é a busca por trabalho. Qualidade de vida e menos violência podem ser complementares. Dos anos 80 para cá, houve desconcentração da atividade econômica. O Nordeste passou a segurar população e atrair a migração de retorno. Pode-se dizer que o País hoje se desenvolve em quase todas as áreas. Com essa mudança no modelo de desenvolvimento, os imigrantes tendem a diminuir", resume o pesquisador do IBGE Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira, um dos autores do artigo "O panorama dos deslocamentos populacionais no Brasil: Pnads e Censos demográficos."

A publicação "Deslocamentos populacionais no Brasil" tem como base o Censo 2000 e as Pnads (Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios) de 2004 e 2009. O IBGE pergunta aos entrevistados onde moravam cinco anos antes da data da pesquisa. Também questiona o Estado de nascimento do entrevistado.

O Censo 2000 apontou a existência de 5,1 milhões de migrantes no País. Estimativas com base na Pnad 2004 indicam 4,63 milhões de migrantes naquele ano. Em 2009, o número caiu para 3,24 milhões.

O IBGE destaca a queda também no deslocamento da população entre as regiões do País. Em 2000, 3,36 milhões de pessoas viviam em regiões diferentes daquela de origem. Em 2004, esse número caiu para 2,86 milhões e chegou a 2,05 milhões em 2009. "Houve redução nessa migração em que a pessoa percorre muitos mil quilômetros movida pela oferta de trabalho. A tendência é continuar a diminuir", diz Antônio Tadeu.

Na mudança de perfil dos Estados, Rio de Janeiro e São Paulo viveram uma inversão no saldo de migrantes. Enquanto o Censo de 2000 apontava que São Paulo tinha 340 mil imigrantes (moradores vindos de fora do Estado) a mais que emigrantes (paulistas que viviam fora de São Paulo), a Pnad de 2004 apontou 155 mil emigrantes mais que imigrantes. A Pnad de 2009 ainda mostra a tendência de saída dos moradores, porém em menor intensidade: havia 53 mil emigrantes a mais que imigrantes em São Paulo. Os números do Censo 2010, mais precisos que da Pnad, indicarão se o Estado continuou a exportar mais do que importar moradores.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sudão do Sul enfrenta dilemas com independência


Extraído de http://www.noticiasbr.com.br

Foi declarada dia 08/07 a independência do Sudão do Sul, que até então ainda se constituía como um estado a mais do Sudão. Agora, a República do Sudão do Sul é o país mais novo e mais pobre do planeta. Com o reconhecimento da nova pátria, o mundo passa a contar com 193 países. Por existir grande diversidade cultural entre as regiões norte e sul, o Sudão teve uma guerra civil que durou por décadas e agora pode reestabelecer os limites de acordo com a realidade das fronteiras.

Quando a África foi ocupada por colonizadores, a definição dos limites internos ao país aconteceu de acordo com as vontades dos ocupantes, ao invés de seguir as tradições com as quais os habitantes originais do continente estavam acostumados. Assim, o Sudão foi desenhado de maneira que povos com religiões diferentes foram obrigados a conviverem em conjunto.

Enquanto ainda era somente o Sudão, a divisão entre norte e sul já estava explícita. Agora, com a independência, a nova república precisa pensar em estratégias para conseguir desenvolver infraestruturas básicas para a sua população. Enquanto o norte do Sudão se mostra mais habitável, o sul praticamente não tem estradas, escolas nem postos de atendimento médico.

Com a independência proclamada, o Sudão precisa estabelecer qual será a nova fronteira, como será reconhecida a dívida do país e de quem são os royalties do petróleo que se encontra no agora Sudão do Sul, e qual será a moeda oficial da república recém-proclamada e como funcionarão os direitos e deveres dos cidadãos do norte e do sul no país que foi separado.

domingo, 10 de julho de 2011

Enem 2011: 5,4 milhões de alunos devem participar do Enem


Extraído de http://www.noticiasbr.com.br

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem cerca de 5,4 milhões de candidatos habilitados para fazer a prova desde ano. O dado foi informado pela Agência Brasil através do ministro da Educação, Fernando Haddad, após a participação da assinatura do convênio com a Secretaria de Educação do Distrito Federal.

Ao todo, foram mais de 6,2 milhões de alunos que realizaram a inscrição pela internet, porém o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) aguarda confirmação do Banco do Brasil sobre o número de inscrições cujas taxas foram realmente pagas.

O número de participantes é recorde. A edição de 2010 teve aproximadamente 4,6 milhões de estudantes que se inscreveram para participar do exame. O aumento de inscritos ocorreu em 2009, quando o Ministério da Educação (MEC), iniciou o projeto de substituição dos vestibulares pelo Enem como forma de entrarem no ensino superior. Com a nota do Enem os alunos podem se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (SiSU) e concorrer a vagas em instituições públicas em todo o país.

O exame no Enem será aplicado nos dias 22 e 23 de outubro, a partir das 13h (horário de Brasília). Todos os candidatos que tiveram a inscrição efetuada devem receber o cartão de confirmação no endereço indicado, pelos correios. O cartão contém o número de inscrição, data, hora e local onde será realizada a prova, indicação de atendimento diferenciado ou específico, opção de língua estrangeira e solicitação de certificação. Ao todo, são 45 questões de múltipla escolha e uma redação, distribuídas em quatro provas diferentes.

sábado, 9 de julho de 2011

Memória brasileira: sigilo ou vergonha?


Escrito por Frei Betto
Correio da Cidadania - Junho de 2011


Há 141 anos terminou a Guerra do Paraguai. Durou de 1864 a 1870. Ao longo de seis anos, Brasil, Argentina e Uruguai, instigados pela Inglaterra, combateram os paraguaios. O pretexto era derrubar o ditador Solano López e impedir que o Paraguai, país independente e sem miséria, abrisse uma saída para o mar.

O Brasil enviou 150 mil homens para o campo de batalha. Desses, tombaram 50 mil. Do lado paraguaio foram mortos 300 mil, 20% da população do país. E o Brasil abocanhou 40% do território da nação vizinha.

Até hoje o acesso aos documentos do conflito está proibido a quem pretende investigá-los. Por quê? Talvez o sigilo imposto sirva para cobrir a vergonhosa atuação de Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro, que comandou nossas tropas na guerra. E do Conde D’Eu, genro de Dom Pedro II, que sucedeu o duque no massacre aos paraguaios.


Os arquivos ultra-secretos do Brasil podem permanecer sigilosos por 30 anos. O presidente da República pode prorrogar o prazo por mais 30, indefinidamente. Eternamente.


Em 2009, Lula enviou à Câmara dos Deputados projeto propondo o sigilo eterno periodicamente renovado. Cedeu a pressões dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. Os deputados federais o aprovaram com esta emenda: o presidente da República poderia renovar, por uma única vez, o prazo do sigilo, e os documentos considerados ultra-secretos seriam divulgados em, no máximo, 50 anos.

O projeto passou ao Senado. Caiu em mãos da Comissão de Relações Exteriores, cujo presidente é o senador Fernando Collor. E, para azar de quem torce por transparência na República, ele próprio assumiu a relatoria. E tratou de engavetá-lo. Não deu andamento ao debate nem colocou o projeto em votação.

A presidente Dilma decidira sancionar a lei do fim do sigilo eterno a 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Naquela data, o relator Collor foi a plenário e declarou ser "temerário" aprovar o texto encaminhado pela Câmara dos Deputados.

Na véspera de ser empossada ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti declarou que Dilma estaria disposta a atender pedidos dos senadores José Sarney e Fernando Collor, e patrocinar no Senado mudança no decreto para assegurar sigilo eterno a documentos oficiais. A única diferença é que, agora, o sigilo seria renovado a cada 25 anos.

O Congresso está prestes a aprovar a Comissão da Verdade, que irá apurar os crimes da ditadura militar. Como aprovar esta comissão e vetar para sempre o acesso a documentos oficiais? Isso significa impedir que a nação brasileira tome conhecimento de fatos importantes de sua história.

Collor e Sarney não gostam de transparência por razões óbvias. Seus governos foram desastrosos e vergonhosos. Já o Ministério das Relações Exteriores alega que trazer à tona documentos, como os da Guerra do Paraguai, pode criar constrangimentos com países vizinhos. Com países vizinhos ou com nossas Forças Armadas e personagens que figuram como heróis em nossos livros didáticos?

O sigilo brasileiro a documentos oficiais não tem similar no mundo. Se não for quebrado, a presidente Dilma ficará refém da chamada base aliada. Ontem foi o "diamante de 20 milhões de reais", hoje o sigilo eterno, amanhã...


Na terça, dia 14 de junho, retornaram ao Brasil os arquivos do livro "Brasil Nunca Mais" (Vozes), que relata os crimes da ditadura militar brasileira. A publicação, patrocinada pelo Conselho Mundial de Igrejas, foi monitorada pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright.


O mérito do "Brasil Nunca Mais" é que não há ali nenhuma notícia de jornal ou depoimento de vítima da ditadura. Toda a documentação se obteve em fontes oficiais, retirada, por advogados, de auditorias militares e do Superior Tribunal Militar. Microfilmada, foi remetida ao exterior, por razões de segurança. Agora retorna ao Brasil para ficar disponível aos interessados. Muitas informações ali contidas não constam da redação final do livro, da qual participei em parceria com Ricardo Kotscho.

Os arquivos da Polícia Civil (DOPS) sobre a ditadura militar já foram abertos e se encontram à disposição no Arquivo Nacional. Falta abrir o arquivo das Forças Armadas, o que depende da vontade política da presidente Dilma, ela também vítima da ditadura. As famílias dos mortos e desaparecidos têm o direito de saber o que ocorreu a seus entes queridos. E o Brasil, de conhecer melhor a sua história recente.

Um país sem memória corre sempre o risco de repetir, no futuro, o que houve de pior em sua história.

Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco), entre outros livros.