terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vexame Nacional! Pesquisa do IPEA aponta que negras(os) são desfavorecidas(os) na educação brasileira

Os mais ricos sempre estão em melhor situação
do que os mais pobres (na educação).



Uma análise feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009 (Pnad) demonstra que existe uma diferença expressiva entre negras(os) e brancas(os) na educação brasileira. Por exemplo, negras(os) estudam 1,7 ano a menos que as(os) brancas(os). Outra face do estudo aponta também que, se dividirmos a população com 15 anos ou mais por renda em cinco partes, os mais ricos estudam, em média, 10,7 anos, contra 5,5 anos da quinta parte mais pobre da população - praticamente o dobro. "Os mais ricos sempre estão em melhor situação do que os mais pobres (na educação). Apenas na área rural o indicador para os mais ricos está abaixo da escolarização prevista no texto constitucional (no mínimo 8 anos). Enquanto isso, os mais pobres não atingem o mínimo recomendado em nenhuma categoria", diz o instituto em nota. O Brasil continua sendo o exemplo de exclusão de negros e pobres, isso é um vexame!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Haiti: subdesenvolvimento e genocídio




Há alguns meses, em 26 de julho de 2010, Lucius Walker, líder da organização norte-americana Pastores pela Paz, em um encontro com intelectuais e artistas cubanos, me perguntou qual seria a solução para os problemas de Haiti.

Sem perder um segundo sequer, respondi-lhe: "No mundo atual não há solução, Lucius; mas no futuro do qual estou falando, sim. Os Estados Unidos são um grande produtor de alimentos, podem abastecer a dois bilhões de pessoas e têm a capacidade para construir casas que resistam aos terremotos; o problema é a forma em que se distribuem os recursos. Ao território de Haiti há que lhe restituir outra vez até mesmo os bosques; e no entanto, não há solução na ordem atual do mundo."

Lucius referia-se aos problemas desse país montanhoso, superpopulado, desprovido de árvores, de gás para cozinhar, de comunicações e indústrias, com um elevado grau de analfabetismo, doenças como o HIV, e ainda ocupado pelas tropas das Nações Unidas.

"Quando essas circunstâncias mudarem ", lhe acrescentei, "vocês mesmos, Lucius, poderão levar alimentos dos Estados Unidos ao Haiti." O nobre e humanitário líder de Pastores pela Paz faleceu um mês e meio depois, em 7 de setembro, à idade de 80 anos, legando a semente de seu exemplo a muitos norte-americanos.

Não tinha aparecido ainda uma tragédia adicional: a epidemia do cólera, que em 25 de outubro reportou mais de 3 000 casos. À tão dura calamidade soma-se que em 5 de novembro um furacão açoitou seu território, causando inundações e o transbordamento dos rios.

Este conjunto de dramáticas circunstâncias merece que lhes dediquemos a devida atenção.

O cólera apareceu pela primeira vez na história moderna em 1817, ano em que se produziu uma das grandes pandemias que açoitaram a humanidade no século XIX, que causou grande mortalidade principalmente na Índia. Em 1826 a epidemia reincidiu, invadindo a Europa, passando por Moscou, Berlim e Londres, e se estendendo ao nosso hemisfério de 1832 a 1839. Em 1846 desata-se uma nova epidemia mais feroz ainda, que golpeou três continentes: Ásia, África, e América. Ao longo do século, epidemias que afetavam as três regiões foram se repetindo. No entanto, em decorrência de mais de 100 anos, período que compreende quase todo o século XX, os países da América Latina e do Caribe se viram livres desta doença, até a data de 27 de janeiro de 1991, quando apareceu no porto de Chancay, ao norte de Peru, que primeiro se estendeu pela costa do Pacífico e depois pelas do Atlântico, e a 16 países; 650 mil pessoas adoeceram em um período de 6 anos.

Sem dúvida alguma, a epidemia afeta bem mais aos países pobres, em cujas cidades se aglomeram bairros populosos que muitas vezes carecem de água potável, e as águas albanais, que são portadoras do vibrião colérico causante da doença, se misturam com aquelas.

No caso especial do Haiti, o terremoto desfez as redes de uma e outra onde estas existiam, e milhões de pessoas vivem em casas de campanha que muitas vezes carecem inclusive de latrinas, e tudo se mistura.

A epidemia que afetou nosso hemisfério em 1991 foi o vibrião colérico 01, biotipo "Tor", serotipo Ogawa, exatamente o mesmo que penetrou por Peru naquele ano.

Jon K. Andrus, Diretor Anexo da Organização Panamericana da Saúde, informou que a bactéria presente no Haiti era precisamente essa. Disso se derivam uma série de circunstâncias a tomar em conta, que no momento oportuno determinarão importantes considerações.

Como se conhece, nosso país vem formando excelentes médicos haitianos e prestando serviços de saúde nesse fraterno país desde há muitos anos. Existiam problemas nesse campo muito sérios e avançava-se ano por ano. Ninguém podia imaginar, por não existirem antecedentes, que se produzisse um terremoto que matou a mais de 250 mil pessoas e ocasionou inúmeros feridos e lesionados. Em frente a esse golpe inesperado, nossos médicos internacionalistas redobraram seus esforços e consagraram-se a seu trabalho sem descanso.

No meio do duro desastre natural, há menos de um mês se desatou a epidemia de cólera com grande força; e como já expressamos, em tais circunstâncias desfavoráveis se apresentou o furacão.

Ante a gravidade da situação, a Subsecretaria Geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, declarou ontem que precisavam de 350 médicos e 2 000 enfermeiras mais para fazer frente à doença.

A servidora pública chamou a estender a ajuda para além de Porto Príncipe, e revelou que os fornecimentos de sabão e de água limpa só chegam a 10 por cento das famílias instaladas da capital, sem assinalar a quantos chegavam nessa cidade.

Diversos servidores públicos das Nações Unidas lamentaram nos últimos dias que a resposta da comunidade internacional ao pedido de ajuda feito para enfrentar a situação não chegasse ao 10% dos 164 milhões de dólares solicitados com urgência.

"Amos reclamou uma reação rápida e urgente para evitar a morte a mais seres humanos por causa do cólera", informou uma agência de notícias.

Outra agência comunicou hoje que a cifra de haitianos mortos se eleva já a "1 523 pessoas, 66 mil 593 têm sido atendidas, e mais de um milhão de habitantes seguem dormindo nas praças públicas".

Quase 40% dos doentes têm sido atendidos pelos integrantes da Brigada Médica Cubana, que conta com 965 médicos, enfermeiros e técnicos que têm conseguido reduzir o número de mortes a menos de 1 por cada 100. Com esse nível de atenção o número de baixas não atingiria a cifra de 700. As pessoas falecidas, como norma, estavam extremamente debilitadas por desnutrição ou causas similares. Os meninos detectados a tempo, quase falecem.

É de suma importância evitar que a epidemia se estenda a outros países da América Latina e o Caribe, porque nas atuais circunstâncias causaria um dano extraordinário às nações deste hemisfério.

Impõe-se a necessidade de buscar soluções eficientes e rápidas à luta contra essa epidemia.

Hoje tomou-se a decisão pelo Partido e pelo Governo de reforçar a Brigada Médica Cubana no Haiti com um contingente da Brigada "Henry Reeve", composto por 300 médicos, enfermeiras e técnicos da saúde, que somariam mais de 1 200 colaboradores.

Raúl estava visitando outras regiões do país, e informado em detalhe de tudo.

O povo de Cuba, o Partido, e o Governo, uma vez mais estarão à altura de sua gloriosa e heroica história.

Fidel Castro Ruz

26 de Novembro de 2010 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Inscrições abertas para IV Seminário das Relações Interétnicas e Igualdade Racial



Com o objetivo de capacitar a sociedade quanto à questão da diversidade étnica e cultural, a Secretaria de Educação, por meio da Divisão de Projetos da Educação Complementar, realiza nos dias 25 e 26 de novembro, das 7h30 às 17h30, no Espaço Cultural da Urca, o IV Seminário das Relações Interétnicas e Igualdade Racial e Cultural na Educação de Poços de Caldas.

Parceria com o Conselho Municipal da Promoção da Igualdade, o seminário capacita professores e estudantes a partir de oficinas de teatro, dança, música, pintura e brinquedos pedagógicos relacionados ao tema “Para uma prática de política afirmativa no município de Poços de Caldas”.

Para participar, os interessados devem se inscrever até o dia 19 de novembro, pelo telefone 3697-2062, na Divisão de Projetos de Educação Complementar. A inscrição é gratuita.

Confira a programação:

25 de novembro

7h30 às 8h30 – Cadastramento

8h30 às 9h15 - Abertura oficial

9h30 às 10h - Orquestra de Berimbau

10h30 às 11h30 - Palestra de Abertura – Ensino Médio, Preparação para o Vestibular e Cotas para Negros nas Universidades Públicas

13h às 14h30 - Mesa de debates – Desafios, Aplicação e Avanços na Implantação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 na Rede Municipal de Ensino

14h30 às 15h30 - Palestra – Presença e Sobrevivência das Culturas Indígenas em Minas Gerais
16h às 18h

Oficinas Interétnicas
- O Ato de Representar na Escola
- Arte e Movimento
- Construção da Identidade Étnica
- Gravura – Criatividade e Arte Utilizando Papel

26 de novembro
8h30 às 9h30 - Palestra – Educação e Tradição Muçulmanas nas Escolas Brasileiras

9h50 às 11h - Palestra – Construção da Identidade Étnica na Educação Infantil

11h às 11h30 - Espaço aberto à reflexão do público com os palestrantes, encerramento e convite para palestra e oficinas do período da tarde

15h às 18h - Oficinas Interétnicas - Exposição da oficina de gravura na pinacoteca

17h - Apresentações Artísticas Temáticas


União e Consciência Negra



Por Marcelo Barros


No Brasil, esta semana começa pela recordação do dia em que foi implantada a República (15 de novembro) e se encerra com o dia consagrado à União e Consciência Negra. Segundo historiadores recentes, no Brasil, a mudança da Monarquia para a República aconteceu quase por engano ou por acaso. Não era a opção profunda do Marechal Deodoro e de seus companheiros. E não significou uma verdadeira transformação da forma de exercer o poder que continuou com as elites (Cf. Fábio Konder Comparato em Caros Amigos, nov. 2010). O segundo fato recordado nesta semana ocorreu em 20 de novembro de 1696.  Neste dia, Zumbi dos Palmares, líder da resistência negra contra a escravidão, foi martirizado. Atualmente, em várias cidades, este dia é feriado e conclui uma semana de comemorações culturais. Uma criança perguntou à mãe se união tem cor e o que significa “consciência negra”. A unidade das raças e a igualdade entre os seres humanos supõem que cada cultura e cada povo tenham consciência de sua dignidade. Chama-se “consciência negra” o fato das pessoas afro-descendentes assumirem sua identidade cultural, conscientes do imenso valor de sua cultura, para contribuir com as outras na riqueza intercultural do Brasil.
A comemoração anual da memória do Zumbi é importante em um Brasil que ainda mantém uma herança de forte desigualdade social. Em inúmeros casos, na realidade brasileira, ser negro é quase sinônimo de ser pobre e ter menos acesso à escolaridade e às condições sociais de outros brasileiros. José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, afirma: “A cor negra da pele de homens e mulheres, assim como sua raça e cultura própria, foram motivos de crueldade humana e de barbárie que mancharam e continuam manchando a dignidade da humanidade” (Carta Capital, 12/11/2008,p. 60). Por isso, são sempre importantes e oportunos os programas que fomentam a igualdade de condições e a integração social de negros e brancos. Conforme a Constituição Brasileira, devem ser respeitadas e valorizadas as comunidades remanescentes de Quilombos. São grupos que, desde os tempos da escravidão, reúnem negros, seus aliados e descendentes, em uma comunidade com cultura e valores próprios. Eles devem ter direito à terra coletiva e merecem das autoridades públicas a proteção e o apoio necessários. Estas comunidades estão organizadas em quase todos os estados e somam mais de dois mil grupos e comunidades. Algumas delas mantêm elementos de idioma, de danças e costumes ancestrais que são de uma riqueza incalculável para todo o Brasil.   
Uma das mais profundas riquezas das culturas afro-descendentes é a espiritualidade viva e bela das comunidades negras. A Mãe África permanece viva e atuante na memória religiosa dos seus filhos e filhas. Para serem escravas nos diversos países da América, foram sequestradas pessoas de diferentes áreas do continente africano. Para evitar rebeliões, os senhores separavam os escravos vindos do mesmo clã ou região. Misturavam etnias. Proibiam que falassem as suas línguas e praticassem as suas religiões. Mesmo impedidos de saber onde estavam outros membros de sua família, também sequestrados, os afro-descendentes conseguiram manter as línguas, contar a seus filhos as histórias dos seus antepassados, guardar as canções da Mãe-África e reconstituir muitas expressões culturais e religiosas. Só podiam cultuar à noite, enquanto os brancos dormiam. Como objetos de culto, só possuíam seus corpos, suas vozes e os terreiros das senzalas, seus templos. Foram obrigados a adaptar antigos costumes da África às novas condições de clima, ao pouco tempo livre de que dispunham e à sua extrema pobreza. Fundiram costumes religiosos, adaptaram mitos e elaboraram oralmente uma explicação religiosa do mundo e da sua história. Esta teologia narrativa deu origem a religiões novas como o Candomblé, o Batuque, o Tambor de Minas, a Santeria cubana e o Vodu haitiano. Durante séculos, de geração em geração, se transmitiram ritos, cânticos e histórias ancestrais.
Um Cristianismo, testemunha de que Deus é amor e inclusão, não pode deixar de respeitar e valorizar estas religiões que, na história, foram responsáveis pela resistência dos nossos irmãos e irmãs negras em meio a um sofrimento tão intenso e continuado. A base da fé cristã é que a Palavra divina se fez carne e se revelou no meio de nós através da pessoa de Jesus de Nazaré que assumiu toda a condição humana e todas as culturas com seus valores para revelar em tudo o que é humano a presença divina. Nós somos chamados a continuar este caminho de reverência amorosa e delicadeza no diálogo e na colaboração com as outras religiões e culturas.

Marcelo Barros é monge beneditino.

Fonte: Jornal Brasil de Fato - disponível em: http://brasildefato.com.br/node/4599

 
 

Laudelina: a luta contra o racismo



Laudelina de Campos Mello (1904-1991) - líder feminista brasileira nascida em Poços de Caldas, Estado de Minas Gerais, incansável lutadora pelos direitos do negro e das empregadas doméstica no Brasil. Aos sete anos de idade, começou a trabalhar como empregada doméstica e passou por uma infância de exploração, discriminação e racismo, o que a levou a desenvolver dentro de si a indignação com a desigualdade no país.
Com 16 anos começou a atuar em organizações de mulheres negras e foi presidenta do Clube 13 de Maio, que promovia atividades recreativas e políticas. Foi para Santos aos 20 anos, onde se tornou ativista da Frente Negra Brasileira. Passou a atuar em movimentos populares e sua militância ganhou um peso político e reivindicatório, com sua ligação ao Partido Comunista Brasileiro. Criou uma Associação das Empregadas Domésticas (1936), fechada seis anos depois (1942), quando atividades políticas foram proibidas em função do Estado Novo.
Mudou-se para Campinas, onde se integrou ao movimento negro da cidade e denunciou que as empregadas negras eram preteridas, protestando contra os anúncios racistas do jornal Correio Popular. Fundou a Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas (1961), para defesa dos direitos das empregadas domésticas e intermediação de conflitos entre patroas e empregadas, uma vez que não havia legislação trabalhista para a categoria. Sua atuação foi exemplo para que fossem criadas associações no Rio de Janeiro (1962) e em São Paulo (1963) e que deu origem ao Sindicato dos Trabalhadores Domésticos (1988).
Atuou nas universidades brasileiras por mais de 30 anos, até seu falecimento. Em seus últimos dias, foi eleita, por reconhecimento de sua competência, Chefe do Departamento de Sociologia, da Pontifícia Universidade Católica - PUC, Rio de Janeiro. Faleceu em Campinas como um símbolo da luta por tornar visível o trabalho doméstico, denunciar sua desvalorização e buscar conquistar direitos trabalhistas e dignidade, explicitando a situação de profunda pobreza, racismo e machismo na qual vivem milhares de mulheres negras em todo o país.